Metade dos países com transmissão comunitária do coronavírus está nas Américas, diz OMS


Mundo tem atualmente 24 países em que a transmissão é sustentada, que é aquela que ocorre quando as autoridades não conseguem rastrear a origem dos casos. Profissionais de saúde com roupas e equipamentos de proteção carregam o corpo de uma pessoa morta por coronavírus no hospital Teodoro Maldonado Carbo em Guayaquil, no Equador, em imagem de 3 de abril de 2020 Vicente Gaibor del Pino/Reuters O mundo tem atualmente 24 países em que a transmissão do novo coronavírus é considerada comunitária. Metade dos integrantes deste grupo estava nas Américas até esta quarta-feira (15), de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a OMS, a transmissão comunitária é a fase do contágio em que a origem da transmissão não pode ser identificada e é considerado que o vírus circula de forma sustentada naquele território. BRASIL: Em SP, Hospital Emílio Ribas tem 100% de ocupação na UTI EQUADOR: Entenda por que o sistema hospitalar e os necrotérios entraram em colapso ARGENTINA: Medidas de isolamento contra coronavírus aumentaram popularidade de presidente CHILE: Pastor evangélico morre por coronavírus após culto com 300 pessoas Nas Américas, há transmissão comunitária nos seguintes países: Estados Unidos, Canadá, Brasil, Chile, Equador, Peru, México, Panamá, República Dominicana, Colômbia, Argentina e Paraguai. De acordo com os dado da organização, as Américas concentravam 35% dos casos do mundo e 22,15% das mortes. Covid-19 nas Américas De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, essa concentração tem relação com o sistema habitacional e hábitos sociais dos países do continente. "Transportes coletivos lotados, moradias com alta densidade de pessoas por cômodo, habitações sem ventilação e estrutura adequada para manter as pessoas dentro do domicílio, saneamento precário, falta de água encanada e de tratamento de esgoto. Esses são alguns dos principais desafios que temos", disse a professora de saúde pública e farmácia social da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Cláudia Fegadolli. Subnotificação Mesmo com essa concentração de territórios com transmissão local, 40% dos países e 84% dos territórios americanos ainda registram menos de 100 casos da doença. Os dados apontam que a América Central é a região menos afetada, com 12 dos 14 países com menos de 100 casos: Jamaica, Barbados, Bahamas, Guiana, Haiti, Antigua e Barbuda, Dominica, Santa Lucia, Belize, Granada, São Cristóvão e Nevis, São Vicente e Granadinas, Suriname e Nicarágua. A baixa concentração pode refletir a baixa concentração demográficas e habitacional nessas regiões, segundo o professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mas também as subnotificações com que a região lida, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A região enfrenta uma escassez de testes, sobretudo nos países mais pobres, o que leva a um quadro impreciso do contágio no continente, segundo a Opas. Para estes países, a organização planeja entregar um milhão de testes diagnósticos do tipo PCR até o final do mês, mas pediu que o resto do continente se apresse para aumentar as quantidades realizadas. Entenda a diferença entre testes rápidos e testes PCR A diretora da Opas, Carissa Etienne, disse nesta terça (14), que a organização já se prepara para lidar com um aumento de casos na região. "O Covid-19 não chegou com toda força na América Latina e no Caribe, mas esperamos um crescimento nas próximas semanas. Devemos atuar com urgência", afirmou Etienne durante coletiva de imprensa. 12 de março - Pessoas vindas da Venezuela utilizam máscaras protetoras como medida de precaução para evitar contrair o novo coronavírus COVID-19 na fronteira na Ponte Internacional Simon Bolivar em Cucuta, na Colômbia. O país declarou uma 'Emergência em Saúde' devido à nova pandemia de coronavírus, que lhe permite tomar medidas excepcionais como proibir o desembarque de navios de cruzeiro e a realização de eventos públicos com mais de 500 pessoas Schneyder Mendoza/AFP Sistema de saúde precário Os médicos da Opas temem que a intensificação da pandemia castigue mais severamente o continente americano devido às condições sanitárias dos países da região. Segundo a Opas, o atendimento intensivo oferecido ainda é precário e poderia não suportar uma sobrecarga de pacientes com complicações da Covid-19. Os países latino-americanos e caribenhos já lidam com altas taxas de outras infecções virais, como a dengue e o HIV. Segundo o último relatório de indicadores básicos de saúde feito pela Opas em 2018, a região teve aproximadamente 580 mil casos de dengue e uma taxa de diagnóstico de HIV de 14,6 pessoas por 100 mil habitantes no ano anterior. "Na região, temos ainda o que chamamos de carga tripla de doenças: um quadro em que a população é exposta, ao mesmo tempo, a uma carga de doenças típicas da pobreza, como desnutrição e doenças infecciosas; condições da modernidade, como hipertensão e diabetes; além de agravos provocados por causas externas, acidentes e violência", diz Fegadolli. "Esse quadro torna ainda mais desafiador o combate à pandemia, pois nos obriga a ter medidas também para todos esses aspectos e torna mais complexas as estratégias de ajuda às pessoas " O continente pode sofrer por conta da situação do sistema de saúde. A média de médicos por 10 mil habitantes é de 21,7 para América Latina e Caribe, mas em alguns países como Bolívia, Paraguai, Guiana e Suriname, o número é menor que 10. Nos Estados Unidos, a taxa é de 26. Nos países mais atingidos pelo coronavírus na Europa (Itália, Espanha, Reino Unido e França), essa média é de 35,5. Dados da Organização Mundial da Saúde, referentes a 2015, mostram que a maioria dos países americanos possuía entre 10 e 30 camas de hospital por 10 mil habitantes. Enquanto na Europa, os países oscilavam entre 20 e 80. “No atendimento aos doentes, faltam profissionais, equipamentos de proteção, leitos hospitalares e de UTI suficientes. No caso do Brasil, ainda temos o SUS [Sistema Único de Saúde], que se propõe ser universal e proporciona ampla cobertura da atenção básica, mesmo com todas as dificuldades, mas não é a realidade dos outros países da região", explica a professora. Para conter o avanço, os países precisam seguir as diretrizes internacionais, com foco no distanciamento social e atenção às populações em ameaça financeira. Fegadolli chama a atenção para a Argentina, em que “o número de casos cresce em ritmo lento devido às medidas rígidas do governo para garantir o isolamento físico”. Mas a resposta dos governos da região não está unificada, o que pode atrapalhar o combate. “Há um racha ideológico que existe na região e se acentua agora. Portanto, não temos respostas coordenadas dos governos. Isso não é exclusivo da América do sul, mas essa falta pode trazer problemas mais graves aqui, em que temos dependência muito grande do setor privado de saúde”, avalia o professor Vinícius Vieira. Rescaldo de crise econômica Além do desafio de saúde no combate à infecção, o continente pode viver um longo rescaldo de crise econômica em decorrência da queda nas atividades financeiras e comerciais. “Como somos economias essencialmente de serviços, principalmente de baixa qualificação e não exportáveis, sofreremos intensamente essa crise. As estratégias terão que ser voltadas pro mercado interno, e o estado deverá voltar a agir para estimular a economia e garantir renda”, projeta Vieira. Além disso, a América do Sul tem forte dependência de exportação de insumos e pode sofrer também por essa frente. “O comércio internacional vai demorar a se recuperar e talvez não tenha uma demanda tão grande pelos produtos que a região tem a oferecer”, diz o professor. Caminho da pandemia na América Até esta terça (14), eram mais de 640 mil casos e 25 mil mortes no continente americano, mas os Estados Unidos respondem por 85% deles. Os outros 15% estão divididos entre os demais 34 países e 19 territórios, segundo o último relatório da Organização Mundial da Saúde. Os Estados Unidos foram o primeiro país na América a registrar casos de infecção pelo novo coronavírus. O primeiro caso no país foi reportado no boletim da OMS de 23 de janeiro. OPAS, FMI e ONU defendem medidas para conter o coronavírus Mais de um mês depois, o continente teve 10 países com casos confirmados, em 7 de março. Depois de cinco dias, o número de países e territórios dobrou e, depois de mais uma semana, quadruplicou. Atualmente, todos os países e territórios da América tem registros do novo coronavírus. O Brasil foi o terceiro país a apresentar casos, no boletim de 27 de fevereiro. E hoje, só está atrás dos Estados Unidos no número de mortes pela doença. Initial plugin text

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